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24.1.06

Um sonho ruim

De repente, tudo parou.
Ele olhou para os lados. As coisas continuavam ali, mas já não se moviam.
O ar ainda era o mesmo ar de segunda-feira, mas já não era como antes.
Sentia algo pesado pairando acima de sua cabeça.
"Estou ficando louco" - pensou.
Talvez estivesse mesmo.
Olhou pela janela. Lá fora a chuva caía, sinal de que, apesar de tudo, a Terra ainda girava.
"O que será que..." - nem conseguiu completar o pensamento, sua mente cedeu lugar a uma mancha branca, estéril de idéias e convicções.
Assim, de uma hora para a outra, ele já não sabia mais quem era. Não sabia onde estava, muito menos qual a razão de estar ali.
Caiu de joelhos. Se entregou ao primitivismo que ainda lhe acompanhava. Fez a única coisa que poderia fazer: começou a chorar.
Esse vazio, a sensação de não pertencer ao mundo, de não saber qual o seu lugar, apertou-lhe o peito. O barulho da água da chuva atingindo a janela só servia para deixá-lo ainda mais desesperado.
"Estou ficando louco..." - lamentou-se.
Rastejando pelo chão do quarto, chegou até a cama. Ergueu o corpo. Lançou-se aos lençóis. Tentava se acalmar. Fechou os olhos. Queria dormir. Queria, mais do que tudo, convencer-se de que estava sonhando acordado, de que aquilo não passava de um sonho ruim...

21.1.06

Vale tudo para se tornar um morto!

Que a internet é um rico substrato para o surgimento e o desenvolvimento das mais diversas formas de expressão não é surpresa para mais ninguém. O que ainda pode nos causar espanto, contudo, é a criatividade e a forma inusitada com que as pessoas ao redor do mundo utilizam-se dessa importante ferramente de comunicação para atingir seus objetivos.

O exemplo mais recente dessa "inusitação" vem do estado de Ohio, Estados Unidos. Chuck Lamb, um cidadão comum, calvo, de 47 anos, casado, teoricamente em perfeito estado mental, tem um sonho: ele quer ver seu nome nos créditos de alguma produção de cinema! E ele nem é exigente. Não precisa ser no papel principal. Nem precisa ser na pele de um personagem que fale. Na verdade, o que Chuck quer é - pasmem! - fazer papel de morto!
Lutando para convencer produtores, diretores e responsáveis pelo casting das produções, Chuck criou há um mês um site no qual demonstra todo o seu "talento". Em suas páginas, Chuck exibe várias fotos simulando diferentes situações, desde acidentes domésticos até assassinatos devido a brigas domésticas. Atingido pela porta da garagem, eletrocutado dentro da banheira, enforcado no ventilador, morto por um rolo de macarrão, são várias as "mortes" que ele encena.
Com sua iniciativa, o excêntrico aspirante a ator de figuração diz que não pretende ficar famoso. Tudo o que ele quer é "demonstrar para as crianças que elas podem ter sucesso se tiverem determinação" e - claro! - realizar seu grande sonho. Sua esposa completa: "Nós não éramos famosos até as pessoas nos pararem na rua e perguntarem: ´Você não é o cara morto?´ ".
Para quem o achar maluco, Chuck avisa que já recebeu 6 propostas de emprego, as quais ainda está analisando...

Agora, essa verdadeiramente é ou não é uma prova de que, com um pouco de criatividade e as ferramentas certas, todos nós podemos concretizar nossos sonhos?

(vale a pena conferir os esforços desse legítimo "morto-vivo" e colaborar para que seu sonho se torne realidade: www.deadbodyguy.com)
(Fonte: Terra)

18.1.06

A Humanidade em Quadrinhos

Poucas formas de expressão conseguem ser tão contundentes quanto as histórias em quadrinhos - mais especificamente aquelas tirinhas de jornal.
Aliando os traços divertidos e quase infantis de seus desenhos a uma profunda reflexão acerca dos hábitos, costumes e modos da sociedade atual, os cartunistas conseguem atingir puntualmente o centro de questões que ainda provocam desconforto no bom-senso da humanidade.
Dessa forma, tornam-se espelho da realidade, deixando claro que a seriedade e a grandiosidade dos problemas que o mundo enfrenta podem sim ser expostas de forma engraçada, divertida e cativante.

Deixo aqui a sugestão de 3 personagens que representam perfeitamente esse caráter "humano" dos quadrinhos:

* A pequena Mafalda (do cartunista argentino Quino), representa todo o anticonformismo da humanidade, mas com fé em sua própria geração. Sempre preocupada com o futuro que o mundo toma, Mafalda vive às voltas com suas reflexões sobre o racismo, as guerras, as injustiças do mundo e as deliberações vazias e sem propósito dos adultos. Uma pacifista por essência, essa jovem garotinha luta constantemente para resistir aos ataques de seu maior inimigo: a sopa.

* O cativante Calvin, que, junto com Hobbes (ou "Haroldo", na livre tradução que se faz para o português), seu fiel tigre de pelúcia e companheiro, enfrenta as mais variadas aventuras, num mundo habitados por adultos que nem de longe mostram-se capazes de compreender o mundo infinito e ilimitado das crianças.

* E, pra não deixar de fora os talentos de nossa terra, temos o incoparável Radicci: um ítalo-brasileiro que conquistou o público com seu temperamento forte, sua paixão pelo ócio e pelo vinho. Com uma roupagem regional, Radicci é um personagem universal. De modos rústicos e ideais ríspidos, ele é um alter-ego dos imigrantes italianos: um cappo que conquista a todos por seu jeito simples e familiar.

9.1.06

Soneto da Fidelidade (2)

É... às vezes somos mesmo obrigados a aceitar as imposições que a vida coloca diante de nós. Quem sabe um dia tudo volte a ser tão belo quanto outrora. Antes de sofrer, porém, prefiro manter as esperanças de encontrar esse tempo futuro onde tudo há de melhorar...
E, para aquela que conquistou meu coração, por mais que o tempo passe apagando as lembranças, deixo impressas no tempo essas palavras que te dirigi e que ainda hoje - e por sempre! - ecoam em meu peito a cada vez que a teu sorriso busco num retrato: TE AMO!

Soneto da Fidelidade

De tudo, meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor ( que tive ) :
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinícius de Moraes

6.1.06

A Consciência Plena e o Total Estado de Inexistência

A simplicidade muitas vezes vence a criatividade nos objetivos e metas que traçamos diariamente. Exemplo disso é aquele estado para o qual, cada vez mais, as pessoas têm voltado suas atenções: a Plena Consciência.
Monges, seres espirituais elevados, pessoas vivendo em plenitude... esse estágio é facilmente alcançado por tipos que sempre consideramos estar um degrau acima de nós na escala de "espiritualização una".
Pois bem... Eu nunca atingi o Nirvana (aliás, a primeira ligação que fiz com o tal Nirvana teve muito mais a ver com Kurt Cobain do que com Buda), mas, na minha singela opinião, esse estágio de pleno conhecimento e desligação completa do unirverso ulterior e exterior se confunde com aquele mais natural estado de total inexistência provocado pela entrega de nosso "eu" físico a um universo material diferente daquele em que nos inserimos, através do qual só a inércia nos é capaz de direcionar.
Quando entramos em uma piscina e ficamos completamente parados, por exemplo, vemos que aos poucos, apesar de saber-nos ali, nossa consciência se transporta a níveis superiores, tornando a matéria "corpo" mero adendo superficial. Aos poucos nossa consciência se expande, não impondo limites às nossas sensações.
Para quem já sentiu essa sensação, PARABÉNS!!! Você já elevou sua consciência a um nível de plenitude ainda estranho ao homem ocidental!
(Para aqueles que não compreenderam ainda a intenção deste comentário, aqui vai um resumo sucinto: é muito mais fácil de se atingir o Nirvana quando estamos dentro de uma piscina.)
Se sob estas condições não atingimos o "verdadeiro" Nirvana, ao menos vale a certeza de termos chegado bem perto...

5.1.06

Ouvir Estrelas

"Ora direis ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso"!
E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora! "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las:
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".

Olavo Bilac

2.1.06

Os Garotos da Rua 220

19:30.
Primeiro uma viatura, depois a segunda. A terceira logo em seguida. Quando dão por si, já são 5.
Eles mal tiveram tempo de dar-se por si. O baralho sobre a mesa ainda espera a próxima mão quando a invasão começa. Vozes ríspidas, amparadas pelo grosso calibre das armas. "Pra parede, todo mundo!". Não eram pedidos gentis. Eram gritos, chutes e socos. "O que aconteceu? Que fizemos?". Zaft! Cassetete nas costas! "Ai!" Zaft! Mais uma estocada. "O que? Não tá gostando, vagabundo? Quero ver agora vocês arrumarem briga por aí" Zaft! - já se sabe o que aconteceu mais uma vez. - "Leva todo mundo!". O aço frio das algemas prendendo-os de 2 em 2. Alguns iam sozinhos. Não que isso fosse privilégio. "Todo mundo pra dentro!". Como lixo, sendo jogados para dentro das viaturas. Obrigados a se acomodar em um espaço inexistente. Alguns choravam. Outros apenas calavam. Lamentos de nada adiantariam. "O que aconteceu? O que fizemos?" - novamente a pergunta ecoou. Dessa vez não foi o cassetete que cortou o ar. Foi o som das sirenes que se proliferou através dos prédios onde vozes anônimas ainda gritavam "Solta! Solta! Eles não fizeram nada! Que vocês estão fazendo?". Mas a pergunta continuou ressoando: "Que fizemos?". Contestação nenhuma se ouviu. Direito de reposta não é dado a bandidos.
A vã diferença é que, ali, naquele lugar, não havia bandidos. Havia apenas um grupo de jovens que se divertia aproveitando as primeiras horas do novo ano.

Mas agora tudo está calmo. Tudo está em silêncio. E ali não se ouve mais o som da alegria. Os garotos já se foram. Sua lembrança, contudo, permanecerá para sempre no testemunho de quem tudo presenciou (se as paredes tivesse voz, ah! quantas estórias contariam!). Porque aqueles jovens nunca mais serão esquecidos por aquelas redondezas. De agora em diante, eles serão para sempre conhecidos como "Os Garotos da Rua 220"...

Eles já foram embora, mas continuarão ali eternamente.
View Guestbook Sign Guestbook WWF-Brasil. Cuidando do ambiente onde o bicho vive. O bicho-homem.