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11.5.05

Castelo de cartas

Elas estavam lá, lado a lado, umas sobrepostas às outras. Leves, pequenas, frágeis, em sua união residia sua força. Postas juntas, aquelas cartas formavam meu refúgio. Um castelo de formas perfeitas, construído na medida exata de meus sonhos. Um palácio, feito para alimentar minhas esperanças. Era ali onde passava meus dias. Era ali onde descansava nas noites. No entrementes, ocupava meu tempo, preenchia minha mente.
Sobre aquelas cartas edifiquei minha vida...
E eis que num momento perdido na tristeza, numa noite, enquanto eu dormia fora de casa, algum desconhecido brincalhão chegou e, sorrateiramente, soprou.
Mal sabia ele o mal que aquela brincadeira me estava causando.
Cheguei a tempo de ver apenas o instante em que as cartas caíam levemente umas sobre as outras, atingindo o topo da mesa e ali permanecendo sem vontade de levantar. Tentei segurá-lo, meu castelo, em vão. As cartas passavam por entre meus dedos, fazendo-me perceber quão inútil eram minhas nobres atitudes de mortal.
Assim, dessa forma meio desproposital, eu vi desmoronar o castelo que levei toda uma vida para construir.
E só quando a última folha plastificada adormeceu sobre o monte de cartas, só então eu me obriguei a aceitar que meu castelo havia ruído para sempre.
Só então eu percebi que acabara de perder minha vida.
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