Google
 

30.10.07

Sobre a poluição visual em São Paulo - I

Comentário de Sergio Viriato, publicado no BlueBus:

O comércio de São Paulo, que é responsável por quase 40% dos estabelecimentos e 20% dos empregos formais de São Paulo, está impedido de utilizar a publicidade para anunciar seus produtos e ofertas. Primeiro a Prefeitura impôs grandes restrições aos letreiros e indicativos das fachadas. Estabelecimentos com quase 100 metros de frente só podem utilizar 4 m2 de suas fachadas para colocar seu nome. Localizar lojas na cidade tornou-se um desafio. Se você não é um cliente habitual, prepare-se para dar muitas voltas até encontrar a loja que está procurando. Imagine: na marginal Tietê, uma via expressa com mais de 60m de largura em alguns pontos, onde as lojas têm um afastamento de até 30 metros da via, você precisa achar um letreiro de 2m de comprimento.
O recurso de colocar uma placa indicativa – Shopping XXX, próxima saída – ou mesmo a clássica faixa “Sob nova direção” foi proibido pela mesma lei, que eliminou a publicidade exterior na cidade. Além de não poderem indicar a localização de seus negócios, ou usar o terreno de suas próprias lojas para se promoverem, os comerciantes também não podem anunciar seus produtos, serviços e ofertas em espaços privados de outras pessoas.
Depois, o prefeito interferiu nas vitrines. Os comerciantes estão proibidos de anunciar promoções, ofertas e descontos dentro de suas lojas que sejam visíveis das ruas. Não podem botar fotos dos produtos que vendem em suas vitrines e fachadas. Se você vende perfumes, só pode botar aqueles frasquinhos mínimos. Se você vende piscinas, tem que botar a piscina na vitrine. Nada de fotos.
Os teatros, cinemas e outras atividades culturais, que têm uma programação que muda frequentemente, não podem anunciar suas atrações nas fachadas ou vitrines. Com certeza o prefeito também acha que o setor cultural não precisa disso.
Agora o prefeito proibiu a distribuição de qualquer tipo de folhetos, panfletos e qualquer outro tipo de material que contenha publicidade. E ainda limitou a quantidade de publicidade que os jornais gratuitos de cidade podem ter. Não importa se esta quantidade é suficiente para a sobrevivência destes jornais ou não. Nunca uma prefeitura havia determinado ou limitado a quantidade de páginas publicitárias de um veículo de comunicação. Mas o Prefeito de São Paulo é um inovador.
Hoje em dia, se você abre uma loja em São Paulo, não pode anunciar na sua fachada, na sua vitrine, na sua rua, no seu bairro. Só pode utilizar veículos com uma cobertura geográfica muito maior do que a sua necessidade, a um custo muitas vezes proibitivo. Se você já tem uma loja de rua, compete com tremenda desvantagem com as lojas de shoppings, que podem fazer o que quiserem com seus letreiros, vitrines, e ainda anunciar dentro das verdadeiras cidades que se tornaram os shoppings centers, que podem investir nos grandes veículos para atrair clientes.
Talvez a solução sejam os velhos pregoeiros. Mas aí eles teriam que brigar com os milhares de ambulantes, com os caminhões de pamonha, abacaxi e morango. E mesmo assim, não adiantaria. O prefeito também proibiu isso. Em São Paulo, moça bonita não paga mas também não leva, feirante não fala mas também não vende, e comerciante não anuncia e também na fatura.
Nunca é demais lembrar que estas proibições não se restringem ao comércio. Você não pode ter plástico de sua universidade no carro, ou mesmo aquele adesivo da concessionária - R$ 10 mil de multa. Você não pode ter nada na sua casa possa ser visto da rua e interpretado como publicidade - R$ 10 mil de multa. Tudo que era legal o prefeito proibiu. Mas tudo que já era ilegal continua. Faixas presas nos postes das esquinas, pais-de-santo prometendo a volta da mulher amada, pichações nos muros, vendedores nos faróis e menores explorados nas ruas.
Mas tem mais: o prefeito também se auto-proclamou o responsável pelo meu, o seu , o nosso bem-estar estético - e os vereadores aprovaram. É sempre oportuno nos lembrarmos de Maiakovky:

Na primeira noite, eles se aproximam
e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem,
pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.

Até que um dia, o mais frágil deles,
entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua,
e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.

E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada.

Marcadores:

View Guestbook Sign Guestbook WWF-Brasil. Cuidando do ambiente onde o bicho vive. O bicho-homem.