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21.1.08

"Eu sou a Lenda" - I am Legend

Este não é certamente o primeiro filme a falar de zumbis, mortos-vivos ou pessoas infectadas por vírus mortais que as transformam em máquinas semiviventes sedentas por sangue. Ainda assim, "Eu sou a Lenda" apresenta ao público algo a mais do que meramente a correria frenética pela vida do protagonista Robert Neville (interpretado por Will Smith). Com o típico aspecto sombrio que permeia os filmes nos quais o vilões só saem à noite porque a luz do sol lhes é fatal, a película conta a história de um coronel do exército que se transforma no único humano resistente ao ataque de um vírus mortal, que transforma as pessoas naquilo que descrevi logo acima. A chamada do cartaz de divulgação dá a tônica daquilo que os telespectadores encontram nas telas: "O último homem da Terra não está sozinho". Imbuído de seu espírito de civilidade, Dr. Robert se empenha em viver por 3 anos numa Nova York devastada, isolada do mundo e habitada por criaturas abissais. Seus dias, ele divide entre as atividades físicas, o cuidado à sua cadela Sam e a caça de espécimes para seus estudos em busca de um antídoto capaz de reverter os efeitos nocivos do vírus.

Não há como negar que o filme se assenta no terreno sempre fértil da ação - tiros, socos, perseguições, explosões; nada deste receituário fica a dever. Ainda assim, a história consegue levantar alguns questionamentos maiores. A começar pela mesma chamada já referida. "O último homem na Terra...". Certo, preciosismos à parte, por pouco mais de uma hora e meia Nova York se transforma no mundo. Não há vida na cidade. Parece não existir em nenhum outro lugar do planeta! Exagero? Nenhum. Tudo perfeitamente justificável. Até mesmo necessário... A linguagem cinematográfica justifica: para uma obra que mexe com a emoção, a totalização da parte tem grande repercussão. Quando a parte passa a representar o todo, todos os sentimentos e as emoções a ela ligadas são potencializadas e intensificadas. Em virtude disso, nada mais natural do que uma cidade representar - não literalmente - o mundo inteiro.

Duas outras grandes questões - que também estão interligadas - trazem à baila dilemas existenciais do ser humano, constantemente abordados nas mais variadas formas de representação artística. Uma delas é o bom e velho questionamento sobre o que você faria se estivesse sozinho no mundo. Ficaria à vontade, entraria na casa dos outros, deixaria de lado o comportamento ético e moral em prol do livre-arbítrio e da permissibilidade total frente a atos e fato? Existiria ainda algum tipo de comportamento ético quando sua única forma de relacionamento fosse travada consigo mesmo - quando no máximo com um cachorro ou com manequins que você mesmo vestiu para fingir que fossem outras pessoas? Isso nos leva à outra questão: quanto tempo uma pessoa normal aguentaria viver nesse estado de isolamento e solidão? Quanto tempo até deixar-se vencer pelos caminhos entruncados da mente? Quantos dias, meses ou anos até, por exemplo, passar a acreditar que os manequins que você mesmo vestiu são pessoas de verdade?

Uma série de discussões paralelas ainda contribuem para a emaranhada trama da história, desde a degradação total do ser humano provocada por sua própria prepotência (a certeza de ter encontrado um vírus benigno que, quando injetado, representaria a cura definitiva do câncer) até a primitiva evolução social de uma classe de seres desprovidos de razão (organizados segundo um sistema hierárquico). Cada um desses elementos contribui em sua parte para construir um enredo firme, sólido e coerente.

Apesar do final, que deixa um pouco a desejar simplesmente por não acompanhar o ritmo frenético do desenrolar da história, e dos efeitos visuais um tanto intragáveis, essa é uma película que vale a pena assistir. Porque, como se pôde ver, esse não é só mais um filme sobre zumbis.

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