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16.7.09

Um Dom Natural

Tomando por base o seu nível mínimo de complexidade, o sorriso é tido como a representação física das condições psicológicas de alguém. Quando uma pessoa está feliz, ela sorri. Quando sente-se bem, sorri. Para demonstrar simpatia, sorri. Ao achar graça em alguma coisa, dá gargalhadas histéricas. Fisiologicamente falando, estirar os lábios num sorriso é atitude extremamente simples: para tanto, são utilizados menos músculos do que os necessários para sustentar uma expressão fechada, sisuda.

Olhando assim, sorrir parece fácil. Tão simples que chega a ser absurda a idéia de imaginar uma pessoa que não seja capaz de dar um único sorriso durante todo o dia. Mas essas pessoas existem. Aos montes. E nos surpreendem. Por outro lado, tão surpreendente quanto estas são aquelas pessoas que têm o sorriso como algo tão natural quanto os cinco dedos das mãos. Para essas pessoas, a felicidade transparece sem fazer força. E a simpatia, por sua vez, aflora pelo corpo, culminando numa simples contorção de lábios.

Ontem, enquanto voltava do trabalho, cruzei com um desses exemplares exóticos. A mulher não devia ter mais de 35 anos. Pelo que pude perceber, ela também voltava do trabalho. A certa altura do caminho, a calçada estava obstruída por um cavalete, que obrigava os pedestres a fazerem um leve desvio, contornando aquele trecho pela lateral da pista principal. Eram apenas alguns passos, talvez não mais do que cinco metros.

Nós nos cruzamos no final do meu percurso, quando eu pulava sobre um canteiro para voltar para a calçada. Ela vinha no sentido contrário. Eu estava distraído, mas o sorriso que ela tinha no rosto me chamou atenção. Na verdade, fiquei intrigado com aquilo. Será que ela estava feliz por ter que pular o canteiro? Talvez pensasse “Viva! Um pouco de aventura no meu dia!”. Quem sabe, lembrasse de alguma brincadeira que alguém no trabalho tinha feito. Num rápido lapso de maldade, cheguei a cogitar a hipótese de empurrá-la sobre o canteiro, só para ver se aquele sorriso continuaria ali.

Foi então que me dei conta: nada do que eu fizesse poderia mudar a situação. Porque aquela mulher não tinha apenas um sorriso no rosto. Ela tinha um dom. Um dom simples, prático, que sequer exige o esforço de muitos músculos da face.

Ela tinha, sobretudo, o dom natural de sorrir.

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