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11.5.05

Castelo de cartas

Elas estavam lá, lado a lado, umas sobrepostas às outras. Leves, pequenas, frágeis, em sua união residia sua força. Postas juntas, aquelas cartas formavam meu refúgio. Um castelo de formas perfeitas, construído na medida exata de meus sonhos. Um palácio, feito para alimentar minhas esperanças. Era ali onde passava meus dias. Era ali onde descansava nas noites. No entrementes, ocupava meu tempo, preenchia minha mente.
Sobre aquelas cartas edifiquei minha vida...
E eis que num momento perdido na tristeza, numa noite, enquanto eu dormia fora de casa, algum desconhecido brincalhão chegou e, sorrateiramente, soprou.
Mal sabia ele o mal que aquela brincadeira me estava causando.
Cheguei a tempo de ver apenas o instante em que as cartas caíam levemente umas sobre as outras, atingindo o topo da mesa e ali permanecendo sem vontade de levantar. Tentei segurá-lo, meu castelo, em vão. As cartas passavam por entre meus dedos, fazendo-me perceber quão inútil eram minhas nobres atitudes de mortal.
Assim, dessa forma meio desproposital, eu vi desmoronar o castelo que levei toda uma vida para construir.
E só quando a última folha plastificada adormeceu sobre o monte de cartas, só então eu me obriguei a aceitar que meu castelo havia ruído para sempre.
Só então eu percebi que acabara de perder minha vida.

8.5.05

Se de minha boca cessarem as palavras

Se de minha boca cessarem as palavras
e eu por acaso parar de dizer que te amo
não penses que eu deixei de te amar

Se minha boca no vazio murmurar
e meus lábios calarem elogios
não penses que não mais te desejo

Se de minha boca não vier som algum
e não puderes ouvir meu coração
não penses que eu te esqueci

Porque, se de minha boca cessarem as palavras,
é simplesmente por essa louca vontade de te amar
que me faz ter no peito uma paixão sedenta
e nos lábios tua boca a beijar

4.5.05

A parede

Chegou um momento em que ele cansou da solidão e do escuro que a acompanhava.
Fechou os olhos, cerrou os dentes, contraiu a fronte e, numa explosão de ódio, deu um soco no vazio que estava à sua frente.
Com a violência, quebrou a mão.
Ele esquecera que não havia vazio à sua frente; somente a parede que ele próprio erguera para se esconder dos olhares do resto do mundo...

Vergonha

Eu me aproximei e lhe disse algo.
Ele recuou e me fitou.
Nunca mais nos falamos depois disso.
...
30 anos depois, ele veio ao meu encontro e me disse algo.
- Por que, então, você não me perguntou naquela época? - questionei-lhe.
- Tive vergonha.
Parece que nossa amizade não era tão forte como deveria ser...

Na leveza de um instante

Eu e ela, ela e eu, nós...
Sós.
E o resto do mundo desaparece.
E nada mais resta.
E o tempo se congela naquele instante eterno
em que somos um do outro.
Simplesmente...

3.5.05

Anedotas Internacionais

No encontro dos Seguidores Intempestivos, o Dono do Mundo falou a seus súditos. E sua esposa, da mesma forma, dirigiu-se aos seguidores do marido, com um repertório farto de comentários jocosos e frases irônicas em relação ao esposo. Todos os súditos acharam graça.
Engraçado mesmo, porém, é saber que muito mais abaixo de onde essa reunião ocorria, lá num lugar bem pertinho do meio do mundo, muita gente também riu daqueles comentários.
O lado triste dessa história é saber que toda essa graça advém única e exclusivamente do "cargo" do Dono, e não da empatia natural que emana de sua pessoa. Porque, ao que parece, no lugar desses suspiros e gracejos gerados aqui por baixo, se as piadas e os comentários irônicos fossem proferidos pela esposa do governante que veio do povo, do governante que é do povo, só existiriam xingamentos e replesálias a essa atitude "pouco condizente com o cargo de presidente da república".
Isso é uma pena.
E chega a ser revoltante.
(Passando, inclusive, pelo caráter de "vergonha")
Mas tudo bem...
As coisas vêm e vão...
E, quem sabe, um dia também eu vire o Dono do Mundo.
(Do meu mundo, ao menos!)
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