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6.3.06

"And the Oscar goes to..."



Cinéfilos de todo o mundo passaram as últimas horas da noite de domingo, 05 de março, e as primeiras horas da madrugada desta segunda-feira grudados à tela de seus televisores. Tudo porque, em festa transmitida ao vivo para 84 países, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Science) fez a entrega da estatueta mais cobiçada por todos aqueles que vivem da Sétima Arte: o Oscar.

Embora a premiação deste ano contasse com o mesmo glamour e badalação de anos anteriores, a surpresa foi a convidada de honra da celebração desse domingo.

Diferentemente de outras edições, em 2006, a Academia claramente se preocupou mais em dar o devido destaque às produções que verdadeiramente apresentassem algum conteúdo do que às produções multimilhonárias. Isso explica, por exemplo, a inexistência de um "super vencedor". Na contagem da distribuição das estatuetas, 4 filmes dividiram o primeiro lugar com 3 vitórias cada um: o gigante "King Kong" levou as estatuetas de Melhores Efeitos Visuais, Melhor Edição de Som e Melhor Mixagem de Som; "Memórias de Uma Geixa" ficou com os prêmios de Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia e Melhor Figurino; "O Segredo de Brockeback Mountain" (o filme mais cotado para ser o "papão" deste ano) venceu as categorias de Melhor Dieração (com Ang Lee), Melhor Roteiro Adaptado (de Diana Ossana e Larry McMurtry - baseado no conto de E. Annie Proulx) e Melhor Trilha Sonora Original; e, finalmente, o filme "Crash - No Limite" (responsável pela maior surpresa da noite) saiu com os prêmios de Melhor Roteiro Original, Melhor Montagem e Melhor Filme.

Como uma prévia daquilo que ainda estava por vir no correr da noite, a premiação de Melhor Canção Original foi, no mínimo, inusitada. Longe de ser considerada uma surpresa - ela era disparada a favorita na lista de todos os críticos de cinema para levar o título nesta categoria -, a escolha de "It´s Hard Out Here for a Pimp" (algo como "É dura a vida aqui fora para um cafetão" - o rap tema do filme "Hustle & Flow") talvez possa ser melhor interpretada como uma mostra de que o inegável conservadorismo da Academia esteja sendo deixado para trás. Certamente ainda é cedo para afirmar se este resultado é tão somente um fato isolado ou se representa uma tendência de "abertura" da crítica norte-americana (até mesmo porque a maior surpresa da noite pode ser, para alguns, considerada como um passo na direção contrária dessa aparente mudança de mentalidade), mas não há como negar que It´s Hard... deu um ar de ecletismo à cerimônia.

Se por um lado essa pluralidade cultural pode se configurar numa situação pontual, ao menos a pluralidade étnica já é uma realidade concreta no mundo "oscariano". Já há muito tempo o Oscar deixou de ser um prêmio para norte-americanos. Chineses, australianos, britânicos, latinos, pessoas de todos os cantos do mundo já foram homenageadas com a famosa estatueta. E finalmente, depois de muito esperar, pudemos ter um gostinho brasileiro na premiação: apesar de não termos trazido nenhuma estatueta para casa, a atriz Rachel Weisz levou a estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante por sua participação no filme "O Jardineiro Fiel", do diretor brasileiro Fernando Meirelles. Mas justiça seja feita: não fomos os únicos representantes da América do Sul presentes na festa: o Oscar de Melhor Trilha Sonora foi dada ao filme "O Segredo de Brockeback Mountain". O responsável por esta trilha? O argentino Gustavo Santaolalla.

Mas, apesar de todas essas novidades, a maior surpresa sem dúvida alguma foi reservada à entrega do prêmio mais esperado da noite, o de Melhor Filme. Despontando o tão comentado "O Segredo de Brockeback Moutain" (que conta a história do amor vivido por dois cowboys gays), o vencedor foi o "azarão" "Crash - No Limite".
Essa premiação foi uma surpresa principalmente por dois motivos: primeiro porque desbancou o até então mais cotado O Segredo...; e, segundo, porque deixou mais do que evidente que, por mais que a Academia esteja deixando de lado seu conservadorismo clássico em prol da adoção de uma visão mais contemporânea e real da sociedade moderna, muito ainda há de ser feito para que essa mudança de mentalidade possa ser efetivada. A premiação de melhor filme é prova de que a Academia (e, por extensão, a sociedade em que está inserida) ainda não está pronta para agraciar livremente produções que tratem de temas ofensivos à "moral e os bons costumes do classicismo tradicional".

Há de se convir, no entanto, que a própria festa desse ano já é um passo na tentativa de ver-se livre desse chavão de falsa moralidade em que Hollywood se assenta. Pois, se por um lado pode ser considerada incongruente a decisão de não dar a estatueta de melhor filme à produção que teve agraciado o melhor diretor, por outro é compreensível o fato da honraria máxima da festa do Oscar ter sido entregue ao filme que levou também a estatueta de melhor roteiro original.

Discussões à parte, 2006 entra para a história como o ano em que a festa do Oscar assumiu um papel democrático por excelência, dando espaço sob os holofotes para todos os participantes, sem aglutinar as premiações em uma mesma megaprodução.

E os cinéfilos de todo o mundo têm que concordar: este ano o Oscar foi, no mínimo, surpreendente.

(Veja o site oficial da premiação e a lista completa dos vencedores)
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