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18.5.06

Cenas do cotidiano

Era inverno. Ele estava sozinho. Era quarta-feria, dia de futebol na TV. "O que fazer?" - pensou. "Pipoca? Não. Muito comum. Pipoca é pro verão". A resposta lhe veio quando avistou uma bacia tampada ao lado dos vidros de biscoito: pinhão! Uma panela de pinhão, um copo de vinho, sala, colchão no chão, uma coberta, que poderia haver de melhor? Claro que ele não era um grande amigo das artes culinárias. Talvez por isso tenha domorado para encontrar o lugar onde ficavam as panelas (sua esposa nunca se preocupara em explicar-lhe mistérios como este). Escolheu o tipo de panela que mais se adequava à sua necessidade.

Enchê-la de água, adicionar sal e acrescentar as preciosas iguarias não foi muito difícil. Acender o fogo e espera 30 minutos até ficar tudo cozido, tampouco. Na verdade, o único problema que teve foi na hora de... abrir a panela. Porque todo mundo sabe, "essas panelas de pressão têm uma tecnologia praticamente de outro mundo"! Ele destravou o cabo e pôs a tampa para dentro da panela (como vira uma vez num desses programas de culinária que passam na TV). Ele puxou. A tampa não saiu. Puxou outra vez. Nada. Ela estava trancada. Só lá pela quinta vez em que tentou sacar-la com um puxão - quando já pensava em quebrar a panela - percebeu que, talvez, a tampa estivesse presa. Ligou para a esposa. "Alô? Amor? Tenho um problema sério! Não... não... Está tudo bem comigo. Quero dizer, quase... Você sabe aquela panela de pressão? Pois então, como faço pra tirar a tampa?". A gargalhada ouvida do outro lado da linha talvez fosse uma medida de quão ridícula era a situação. Ele se irritou. Desligou o telefone. Decidiu continuar tentando sozinho. Tentou por mais uns 20 minutos - na TV, o jogo já havia entrado em seu segundo tempo. Puxou, repuxou, retorceu, acendeu o fogão mais uma vez (lembrando-se das contraçõs e expansões aprendidas nas aulas de física), girou, deu voltas, tentou passar sabão nas extremidades... nada adiantou. No desespero, pegou uma lixa e começou a limar uma das bordas da panela de alumínio. Com a borda lixada, então, conseguiu arrancar a tampa. Sucesso, enfim!!!

Pena que, de tanto esforço, a vontade que tinha de comer pinhão desparecera completamente. Em seu lugar, apenas o cansaço. Largou tudo em cima da pia, e foi para o quarto. Sem pinhão, sem vinho, com o orgulho esfacelado por aquela invenção que certamente só poderia ser coisa de outro mundo: realmente odiava panelas de pressão!

Ele foi dormir.

E nunca mais tocou nesse assunto.

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