Google
 

11.3.06

"Lost" - a receita de um grande sucesso

Um avião enfrenta problemas durante o vôo e cai numa ilha perdida no sul do Oceano Pacífico. 48 passageiros sobrevivem ao acidente. Isolados neste local misterioso, os sobreviventes lutam para superar suas diferenças e seus segredos. Dessa forma, tentam manter-se vivos até que alguém os venha resgatar.
Este é o enredo da série "Lost" (cuja 1ª temporada foi recentemente exibida pela Rede Globo de Televisão).

É certo que o tema de sobreviventes de naufrágios ou de acidentes aéreos que ficam isolados em uma ilha escondida em algum lugar do mundo, enfrentando todos os tipos de adversidade, a todo instante sendo obrigados a encontrar uma nova forma de superar suas limitações, certamente não pode ser considerado um rompante de originalidade. Várias produções já exploraram enredos com características semelhantes nas telas do cinema, da TV e até mesmo nas páginas dos livros ("O Náufrago" - filme em que Tom Hanks dá uma aula de atuação e composição de personagem - e o clássico livro "Robinson Crusoé", de Daniel Defoe, são apenas 2 dos exemplos mais famosos).

Se o enredo em si não é no todo original, o que, então, faz com que estas produções se tornem sucesso tanto de público quanto de crítica? Qual é a mágica capaz de despertar o interesse e prender a atenção do público? O que esses sobreviventes têm de tão especial?

Talvez a razão mais gritante desse freqüente sucesso seja justamente o fato das personagens serem "sobreviventes". O interesse do ser humano pelo desconhecido e seu comportamento diante de situações extremas, a curiosidade de saber o que faríamos se fôssemos nós mesmos naquela situação, se conseguiríamos sobreviver, se apesar de todas as dificuldades continuaríamos cultivando a esperança; já servem para mexer com a imaginação do público e garantir a produtores, roteiristas, escritores e diretores um bom terreno para o desenvolvimento de suas tramas.

Mas, além desse inexplicável interesse pelo desconhecido, há um outro fator de vital importância para o sucesso - ou fracasso - dessas produções: tão importante quanto ter nas mãos uma história interessante é saber como contar essa história da forma mais envolvente possível.

E quem acompanha a série Lost sabe perfeitamente quão vasto é o universo das variáveis que podem ser utilizadas para se melhor narrar uma história...

Desde o primeiro capítulo, os episódios vêm sendo dosados com as medidas exatas de suspense, aventura e mistério. Nenhuma respota é dada sem que antes surja uma nova pergunta que fique pairando no ar, esperando nova resposta.

Da mesma forma, as personagens não são apresentadas em sua versão "completa". Elas vão sendo construídas de forma gradativa. A personalidade de cada um e seu comportamento junto aos demais na ilha vão sendo justificados com flashbacks que contam as histórias de suas vidas. O passado que os persegue, a mágoa que não os deixa, as incertezas e os medos são peças que vão sendo encaixadas de forma homeopática, uma de cada vez. Pé ante pé, o público vai conhecendo um pouco mais de cada sobrevivente. E isso cria um clima de cumplicidade, leva a personagem para mais perto do telespectador, quase como se aquele indivíduo da ficção ultrapassasse os limites da realidade e entrasse no mundo das pessoas de carne e osso. O sujeito rude e antipático, a mocinha que esconde seu passado, o cabeludo naturalmente cômico, o viciado em heroína, a jovem mãe solteira, o mocinho responsável e com desenvolvido senso de justiça e liderança... os personagens são tão palpáveis que não seria de se estranhar se qualquer um deles fosse nosso vizinho de porta.

Outra característica natural à série - e que, pela facilidade com que ocorre, a distingue da maioria das demais produções televisivas do momento - é a narrativa dialética da qual ela se valhe. Tudo o que acontece é apresentado propositalmente de uma forma paradoxal. Felicidade e tristeza, revelação e mistério, sucesso e fracasso, vida e morte, esperança e desespero, amor e ódio... para cada sensação que se desperta, sempre há uma sensação contrária para contrabalancear o peso dos acontecimentos (num dos episódios, no mesmo dia em que o bebê de Claire nasce, Boone morre; no último episódio da 1ª temporada, a francesa devolve o bebê que raptara para Charlie e Sayd, enquanto, em alto-mar, "os outros" levam o menino Walt embora). Esse estratégico choque de realidades contrárias - que se opõem e completam - aumenta a intensidade dramática de cada acontecimento que envolve os sobreviventes da ilha.

No entanto, nenhum dos pontos que acima citamos valeriam de alguma coisa se não houvesse um roteiro muito bem esquematizado para fazer a "costura" da trama. Mérito aqui devido aos roteiristas e aos produtores que, além de cadenciarem o ritmo dos acontecimentos de forma primorosa, têm um planejamento de longo prazo para toda a série (prevista para ter a duração de 6 temporadas).

Lost (exibida originalmente nos EUA pela rede ABC - e retransmitida no Brasil pelo canal pago AXN) está atualmente no decorrer de sua 2ª temporada e, caso continue seguindo os passos que já a transformaram num fenômeno de audiência, certamente será mais uma série a fazer parte do seleto grupo de grandes sucessos da televisão mundial.
Se bem que, observando-se todos esses fatores, fica mais fácil compreender como uma série com um mote tão utilizado ainda consiga causar espanto, intriga, curiosidade e, sobretudo, admiração em milhares de telespectadores ao redor do mundo, não é?

(Para acessar o site oficial da série, com informações sobre os capítulos já exibidos, arquivos para download, curiosidades e biografia dos atores, CLIQUE AQUI)

Marcadores: ,

View Guestbook Sign Guestbook WWF-Brasil. Cuidando do ambiente onde o bicho vive. O bicho-homem.