O ano é de eleição. O cenário político está conturbado. A economia, sabe-se lá por quanto tempo, resiste com bons índices. Diante deste panorama bagunçado, já não podemos mais negar que a expressão "circo eleitoral" assumiu, nos últimos meses, um sentido duramente literal. A impressão que nos fica é que deste momento até a data das eleições, a cada dia seremos obrigados a presenciar um novo espetáculo de má-conduta, acusações, falácias e muito blá blá blá. E os personagens, já tão conhecidos de todos, continuarão sendo os mesmos: os malabaristas do governo, tentando ainda equilibrar-se sobre a corda bamba, e os domadores da oposição, que procuram de todas as formas desestabilizar os até então tranquilos planos governistas.
Os escândalos de corrpução que pipocam em setores do governo evidenciam que algo de muito ruim estava sendo feito. As falhas nos príncipios éticos e morais de certos indivíduos vieram à tona. Caixa-dois, quebra de decoro parlamentar, enriquecimento ilícito, abuso de poder, omissões, falsas explicações, erros que devem ser assumidos, culpados que devem ser punidos com todo rigor: todos frutos, sobretudo, da falta de moralidade e de compromisso de determinados braços da base governista. Atitudes e comportamentos execráveis, que evidenciam a falta de respeito com que o cidadão brasileiro é tratado.
Maculada por detrás do falso rótulo de "consciente", também a oposição esbanja hipocrisia, procurando de todas as formas minar o caminho de seus adversários políticos, numa clara demonstração de que sua preocupação está muito mais ligada às eleições de outubro do que com o compromisso para com a verdade. Politicismos à parte, fica evidente a espúria estratégia de, ao se esconder por detrás do papel de "investigadores em busca da verdade que o povo tanto exige e necessita", adotar uma postura de franco-atirador, disparando para todos os lados na tentativa de angariar o maior número possível de vítimas.
A falta de compromisso com os verdadeiros interesses da nação pode ser ilustrada pelo desdobramento mais recento do "caso Francenildo": após provocar a demissão do ex-ministro Antônio Palocci (por indícios que apontavam sua participação direta na quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa), a base oposicionista do Congresso agora exige que o Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, dê explicações sobre sua conduta perante as acusações feitas ao ex-ministro da Fazenda. Diante deste comportamento, só nos restam dúvidas: será que tudo isso tem mesmo vistas à elucidação dos escândalos que banham nosso centro político-administrativo? Ou tudo não passa de uma estratégia eleitoreira para destruir moralmente os alicerces que serviriam de sustento ao governo na próxima eleição?
Essa metáfora do "circo eleitoral" não seria no todo ruim, caso não evidenciasse um problema que há muito infecta nosso país: a colocação de valores político-partidários e pessoais em primeiro lugar, relegando os interesses e o bem da nação a um enfadonho segundo plano. As denúncias devem sim ser investigadas! Os culpados precisam ser punidos! E à população a verdade deve ser apresentada! Quanto a isso não há dúvida. O problema é que, de acordo com as posturas adotadas, nenhum dos dois lados que comandam o país demonstram estar realmente interessados em preencher as lacunas que restaram abertas. A preocupação principal volta a ser simplesmente a de desempenhar o melhor possível o seu papel debaixo dos holofotes, diante da opinião pública, para que dessa forma cada um consiga "garantir o seu", atingido seus próprios objetivos.
Ao que parece, esses espetáculos eleitoreiros continuarão ainda por muito tempo - pelo menos até Outubro, quando a população for atiçada a exercer sua cidadania através do direito do voto. Aí, então, novos personagens tomarão conta deste picadeiro. E os malabaristas e domadores terão que dividir espaço com uma nova classe, que será esquecida logo em seguida:
os palhaços!(Infelizmente já não resta dúvida sobre quem assumirá esse papel...)
* A peça que ilustra esse artigo é de autoria do estudante Mateus Rosa da Silveira, vencedor do XIV Prêmio Central do Outdoor, categoria estudantil, que trazia o tema "Ética e Moralidade. Mais que palavras, obrigações".